Carta Capital
A duas horas do centro do Rio de Janeiro, um megaempreendimento com 32 mil casas pode sinalizar um novo modelo de moradia no Brasil. Com financiamento do programa Minha Casa, Minha Vida, o Cidade Paradiso inaugura um procedimento bastante comum em outros países da América Latina, como o México: construir condomínios de casas para famílias, com tamanho de bairros inteiros, mas distantes dos grandes centros urbanos.
Cidade Paradiso cria um bairro em beira de rodovia. Foto: Reprodução do site
“Saindo da Cidade do México, depois de 1h30 de estrada, você chega num conjunto de 25 mil casas, no meio do nada”, explica a arquiteta Ermínia Maricato, pesquisadora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Localizado no município de Nova Iguaçu, o Cidade Paradiso destina-se a moradores com faixa de renda de até cinco mil reais e faz parte da estratégia do governo de reduzir o déficit habitacional urbano. Equivale a área dos bairros de Copacabana e Ipanema juntos e está todo integrado no Minha Casa, Minha Vida.
O modelo suscita críticas entre especialistas. Letícia Figolo, do Laboratório da Habitação da FAU-USP, lembra que bairros isolados criam demanda de deslocamento, o que pode contribuir para o caos na mobilidade. Além disso, podem ter implicações no meio ambiente.
Para Maricato, o Minha Casa, Minha Vida injetou dinheiro no mercado imobiliário sem um planejamento urbano. A explosão de preços dos imóveis, sobretudo nas grandes cidades, é uma de suas consequências. “Qualquer cidade importante vai sair desse circuito de especulação imobiliária intensa completamente transformada”, afirma.
Segundo Ermínia, uma parte importante das moradias brasileiras está na ilegalidade.Em São Paulo, a porcentagem é de 22%. Mas em algumas cidades, como Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo e Belém (PA), esse valor chega a 60%. Letícia Figolo aponta que empreendimentos como o Cidade Paradiso são uma opção para pessoas que viviam em áreas não regularizadas. Para Ermínia, essa parcela ilegal já faz parte da cidade brasileira.
A consequência é que, nesses lugares, o poder público não tem acesso. “Fonte importante de violência na cidade é o fato de não se ter lei para ocupar o solo e nem lei pra nada nesses lugares”, afirma.