Golpe no Citi ensina muita coisa

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Época

Paulo Moreira Leite

Diante dos problemas criados pela desregulamentação financeira, uma das origens da crise de 2008, chega a ser inacreditável assistir à pressão de grandes grupos economicos para bloquear todo esforço pela criação de regras que possam dar um ambiente mais civilizado e produtivo à atividade dos bancos americanos.

Os bancos são instituições indispensáveis ao funcionamento da economia, ao consumo e à geração de empregos, mas não faltam casos em que a liberdade descontrolada tenha servido como cobertura para práticas graves e condenáveis. Como regra geral, ajudou a criar um ambiente especulativo que destruiu uma riqueza calculada em vários trilhões de dólares e milhões de empregos pelo planeta.
Em vários casos particulares, a desregulamentação serviu de brecha para a prática de crimes descarados e vergonhosos.
No mais recente, o New York Times revela que nos últimos anos o Citibank, um dos maiores bancos do mundo, foi apanhado num flagrante complicadíssimo: fraude contra os próprios clientes.
A historia foi assim. Depois de formar um fundo de nome sofisticado, Capital V, carregado de papeis podres, em especial hipotecadas sem lastro, o Citi revendeu a papelama a clientes e investidores desavisados, alguns escolhidos a dedo por seus funcionários. Em seguida, passou a jogar contra o proprio fundo. Inacreditável, não?
Pois é verdade. O fundo chegou a movimentar US$ 1 bilhão até que foi descoberto.
Para livrar-se de uma condenação judicial, o Citi concordou em pagar uma
indenização de US$ 285 milhões aos clientes enganados, além de uma multa de US$
90 milhões.
É um caso grande mas não é o primeiro. No ano passado, nos EUA, o Goldman Sachs e o Morgan enfrentaram investigações semelhantes.
Num período de artimanhas ideológicas profundas, a atividade do Citi costuma ser justificada no plano das liberdades individuais. O argumento é um típico produto Tea Party: todo cidadão é livre para colocar seu dinheiro aonde quiser — e ninguém tem culpa se não escolhe direito seus parceiros. Por que não vai se informar?
É um argumento enganoso demais para ser verdadeiro. Os bancos são uma instituição necessaria ao funcionamento da economia. Cumprem uma função única, que é reunir os recursos dispersos pela sociedade para estimular investimentos produtivos. Devem ser remunerados por isso – e bem remunerados, quando se mostram capazes de gerar uma grande quantidade de riqueza util à sociedade.
Mas também precisam ser vigiados, para evitar que usem o patrimonio dos clientes para trabalhar contra eles. Ninguém pode ser autorizado a roubar a casa de um vizinho apenas por que ele o convidou para jantar, certo?
Com um faturamento superior a US$ 20 bilhões e lucros da ordem de US$ 3,8 bi, os gastos finais com a investigação ficam em torno de 0,1% das receitas do banco no período. É uma quantia tão irrisoria que se teme que a Justiça acabe por aumentá-la em sua decisão final.

http://colunas.epoca.globo.com/paulomoreiraleite/2011/10/21/golpe-no-citi-ensina-muita-coisa/

Sobre Marcos O. Costa

Arquiteto Urbanista formado pela FAU Mackenzie com mestrado em estruturas ambientais urbanas pela FAUUSP. Associado à Borelli & Merigo, onde desenvolve projetos nas áreas de edificações e urbanismo. É professor da FAAP e da Escola São Paulo. A publicidade exposta neste Blog é de responsabilidade da Wordpress
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